Dançando Entre Lírios mortos,Livro de poesias de Marcos Antônio Filho(Fábrica de livros,15 Reais)
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terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Vou criar um poeta

Vou ensinar a um menino
Tudo sobre poesia.
Transformarei o moleque
Num poeta.
Eu o farei ver as coisas
Ao seu redor com os olhos fantásticos
Que perceberão os mágicos instantes
Do cotidiano rotineiro.
Ensinarei a expressar os seus sentimentos
Com o êxtase das palavras
Mostrarei como o seu ponto de vista
Deverá ser versado.
Ensinarei a ter opinião mais sensata,
Mesmo que não seja correta.
Ensinarei tudo sobre rimas,
Sílabas poéticas, aliteração, métrica,
Ritmo, assonância, paronomásia, paralelismo,
Enfim, todos os termos técnicos possíveis,
Mas mostrarei a ele que antes de tudo,
A poesia tem que sair fervilhando
Do seu lívido coração.

Vou fazer do garoto
Um grande poeta.
Mas terei que avisá-lo sobre o lado ruim disso.
O garoto não terá mais sorte no amor.
E que seus sofrimentos
Terão dimensões incalculáveis.
Assim como o amor que for sentir.
Ensinarei que necessariamente
A poesia será o que você vê ou sente,
Mas quem ler terá que ver com seus olhos,
Sentir com o seu coração.
Eles se identificarão com as suas angústias, alegrias e lamentos
Como se fossem deles.
Farei-lhe entender
Que a poesia é algo que não se entende,
Se cultua e sente na alma.
É emoção, é lirismo escorrendo pelo corpo,
É preencher um coração vazio, cheio de solidão.
Poesia é o incomodo conforto de nossos dias,
Poesia é o que quiser que ela seja.

O garoto que ensinarei
Será um poeta dos bons.
Eu o incentivarei a correr atrás,
A participar de concursos até o ápice,
O seu primeiro livro de poesias,
Esse grande sonho que não realizei por insegurança
O garoto realizará por mim.
Por que ele vai ter com quem se apoiar,
Coisa que não tenho,
Um sonho tão difícil exige,
Um esforço sobre-humano
Que só com a gana de um menino
Para superar o conformismo
Deste velho amargurado e pior,
Desesperançoso.

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