Dançando Entre Lírios mortos,Livro de poesias de Marcos Antônio Filho(Fábrica de livros,15 Reais)
maiores informações em marcos.antoniofilho@gmail.com ou no próprio blog

domingo, 31 de dezembro de 2006

Dançando entre Lírios mortos

Eu vivo assim.
No limite da loucura,
Em busca da sabedoria.
Eu vivo assim.
Limpando a minha alma impura
Cultuando a melancolia.
Eu vivo assim.
Mostrando ingenuidade
Nutrindo sentimentos tortos.
Eu vivo assim.
Procurando a felicidade
Dançando entre Lírios mortos.

Eu vivo assim.
Tendo idéias brilhantes
Diante de todos os fracassos.
Eu vivo assim.
Perdendo instantes
Programando meus passos.
Eu vivo assim.
Chorando sozinho
Por andar entre corpos.
Eu vivo assim.
Estou seguindo meu caminho
Dançando entre Lírios mortos.

Eu vivo assim.
Aceitando a minha dor
Que revolta minha rotina.
Eu vivo assim.
Agindo com torpor
Ao que passa pela minha retina.
Eu vivo assim.
Morrendo em cada segundo
Solitário como os velhos portos.
Eu vivo assim.
Versando a fúria do mundo
Dançando entre Lírios mortos.

Jovens

Canções de ninar suicidas
Acalentam os sonhos juvenis.
Somos rebeldes, inquietos,
Capazes de mudar o mundo
Com o poder da palavra
E ao mesmo tempo,
Chorar com o fim do primeiro amor.
Um vigor inesgotável
É pouco para a juventude frenética,
Consumista, antológica, imprevisível.

O tempo voa loucamente
Sob nossas cabeças.
Temos que viver antes
Que seja tarde demais.
Temos que sair, palestrar,
Amar, batalhar o primeiro emprego,
Estudar, vencer na vida,
Esgotar nossos prazeres carnais,
Viver com absoluta intensidade.

Nascemos para derrubar mitos,
Questionar crenças,
Reclamar da política,
Estudar para o vestibular,
Refletir sobre o sentido da vida,
Ser alguém no país dos zés-ninguéns.
Somos jovens, enfim.
Carregando fardos,
Unindo raças através do amor
E concluindo a transição
De jovens rebeldes para adultos burocratas
Na sociedade enigmática do amanhã.

Levem-me para você

Por que eu quis você?
Pergunta sem resposta.
Mais uma para a coleção.
Talvez esta pergunta até tenha resposta,
E eu não esteja disposto a encontrá-la,
Ou eu sei resposta e estou mentindo
Para mim mesmo para ter uma dúvida para me atormentar.
É, eu quero permanecer na dúvida,
Nessa inconstância de sentimentos
Que me envolvem cada vez mais a você.
Se ora quero me matar,
Ora dançar em tempestades,
Ora ser o Presidente da República,
A culpa é sua e do amor tórrido
Que sinto por você,
Que contagia todos os poros
Do meu corpo.
Agora, só consigo ver a vida
Como um sonho bom, um sonho
Em que você sabe que eu te amo.
Eu amo você.

Eu faria canções para ti,
Se soubesse alguma partitura.
Mas ainda tenho as palavras,
E eu as entrelaço como linhas
E as dou como um belo vestido.
Delas também faço o meu refúgio,
O lugar onde posso amar-te sem medo algum,
Sem me importar com nada e com ninguém.
E eu queria que fosse assim
Desde a primeira vez,
Quando os nossos olhares se cruzaram
E eu senti o amor mais arrebatador da minha vida.

Semana passada eu te perdi,
Mas hoje te ganhei de novo.
Tantos olhares meus,
Tantas coisas que pensei em te dizer
Que eu chego a ter certeza
Que falta muito pouco,
Para que possamos ser,
As duas metades de uma alma só.

O poeta triste

Hoje o dia está lindo,
Cada detalhe esconde inspiração aos poetas,
Mas há um poeta não está se importando com nada.
Este poeta está muito triste
E só vê um dia nublado e fúnebre
Dentro do seu recinto
Ele mantém as cortinas fechadas
E impede que os raios do sol
Escape pelas frestas.
O sol transmite felicidade,
E isso é tudo que o poeta quer sentir agora.
O poeta quer curtir a dor de sua solidão.
O poeta está arrasado,
Seus olhos estão vermelhos, marejados,
Um rosto abatido
E um coração despedaçado.
Ele está descrente do mundo,
Da sua poesia,
E do amor.
Ele soube o gosto amargo do desprezo
De quem se ama.
Nada o animará nesse momento.
Os papéis na escrivaninha
Continuarão em branco,
A caneta ficará no mesmo lugar
E seu computador permanecerá inerte.
O poeta está entregue ao torpor
Que sua vida se transformou.
Com uma grande nódoa no peito combalido
E mais uma penca de poesias em vão,
Versos inúteis que expressam um amor
Que nunca florescerá
Pois sua musa não ama.
O poeta sente a dor
Que sempre interpretou nas poesias
O poeta tenta chorar, mas não consegue.
Ele se esqueceu que suas lágrimas
São versificadas, seus lamentos vivem em estrofes
E rimas ricas e pobres.
O poeta não quer mais escrever.
Isso o faz lembrar do seu entusiasmo
Ao criar versos de amor eterno,
Agora imortais aos olhos do mundo,
Que são apenas meros versos de amor.
O poeta triste não vê esperanças,
Ele sofre como um condenado a espera da morte.
Sim, para o poeta isso é a morte,
Amar quem não o ama.
Ele vê a solidão como única companheira
Pois acha que é impossível Conquistá-la,
Sua diva que preferiu
Morrer no anonimato
Do que imortalizar seus traços e gestos
Mas doces palavras de um apaixonado poeta.
O poeta agoniza, e se deprime cada vez mais.
Ele foi tão cortês, tão gentil,
Mas de nada adiantou.
Será que o mundo mudou tanto assim,
Poetas não conquistam mais?
Por isso ele não quer se recuperar,
Tem medo de arranjar outro amor
E acontecer a mesma coisa.
O poeta quer vegetar, em um luto
Por seu amor rejeitado.
Ele quer mudar de nome
Para esquecer o fracasso
Que acha que é,
E autoentitular na poesia da sua vida,
Como o poeta triste.

Soneto para a minha amada

Adoeço, ao ficar sem te ver,
O mal de amor que me assola,
Sem teu perfume que me acorda,
Sem teu olhar, minha alegria de viver.

Minhas mãos querem te tocar,
Meu coração implora para ser teu.
É um amor que ninguém descreveu
E cabe a mim, eternizar.

O sublime ato de te querer
Engrandece-me e faz-me maduro,
Como a aurora ao resplandecer.

Meu bem te amo e te juro,
A mulher em você irá crescer
E não verá amor mais puro.

Três sonetos enfurecidos

I
Paro para escutar o silêncio do meu quarto,
E penso no que ainda está engasgado
No que eu podia ter falado,
Ter descarregado meu ódio farto.

Sem palavra, tu sempre foste assim.
E eu, por pura ingenuidade, acreditava
Que você não brincava
Com os sentimentos alimentados por mim.

Falso, irrecuperável, lábia boa,
Engana a quem quiser
Para satisfazer qualquer prazer seu que houver.

Eu acredito que quem mente vive só,
Porque não há no mundo coisa pior,
Do que amar a toa.

II
Seus odores eram de outros corpos,
E a falsidade, fenomenal.
Cultiva relacionamentos tortos,
Para o seu mero prazer carnal.

Era um (falso) exemplo de homem,
E ainda queria ser igual a você,
Uma pessoa cujas virtudes somem
E dão lugar à podridão do seu vil ser.

Como ele não se perde nas mentiras?
Para que tanto poder?
Ele quer ter todas as mulheres do mundo?

A sujeira aparecerá por esses dias,
E todos irão perceber
Que não existe ser mais imundo.


III
Se eu te encontrar, não respondo por meus atos.
Ainda não esqueci todos os fatos
Que fizeram você sumir,
E tentou fazer a minha vida se destruir.

Mas aos poucos me recupero,
Vivo a minha vida e espero,
Que suas promessas não iludam a mais ninguém,
Assim como iludiu a todos e a mim também.

Foste embora sem dizer adeus
E eu queria que você mantivesse a sua palavra,
E se redimisse dos erros teus.

Não quero que o chão se abra,
Mas o que o destino começa, acaba.
O seu castigo agora está nas mãos de Deus.

A luz na escuridão

Hoje não quero acordar,
Quero sonhar com um mundo feliz.
Mas tenho que aceitar
Não é este o mundo que eu quis.
Não basta apenas rezar,
Para consertar nosso país.
Enquanto a corja segue a tramar,
Buscaremos a nossa diretriz.

Sem nenhum ideal, não é legal,
Viver não é viver sem lutar.
Se tudo está indo mal,
E você continuar sendo irracional
Eles não pararão de te enganar.

Somos a luz na escuridão,
Somos gotas na imensidão,
Desse mar de ignorância e descontentamento.
Somos a luz na escuridão,
E estamos em busca de um coração
Que bata alegre por dentro.

Falta inteligência
Para se fazer a coisa certa.
Chega de incompetência
Dos políticos que só fazem merda!
Cultivo a paciência
E mantenho a mente aberta
Diante da benevolência
De deixar todos em alerta...

Todos em alerta...

Somos a luz na escuridão,
Também perdemos a razão,
Pois somos seres humanos normais.
Somos a luz na escuridão,
E os corruptos vencerão
Enquanto formos um bando de animais.

Evocação

Poetas do mundo!
Por favor, apenas hoje
Façam versos felizes, revoltados, ou saudosistas,
Escrevam sobre o que lhe interessarem,
Façam todos os tipos de versos,
Só me deixem que nesta noite
Eu farei os versos tristes de amor.
Talvez alguns poetas hoje tenham motivo
Para versar suas melancolias,
Mas hoje mais do que nunca, preciso fazer
Os versos mais tristes da noite em todo o mundo.
Todos os poetas que tem como o teto à noite neste momento,
Deixe-me rimar a tristeza de um coração partido,
A tristeza de amar e não ser amado,
Se a mulher que amo me amasse também,
Estes versos não precisariam ser escritos.
Eu poderia enchê-la com os meus beijos, mas sequer a beijei um dia.
Eu poderia tê-la em meus braços, mas nunca a abracei.
Ela não está aqui.
Deve estar se divertindo por aí, linda como sempre.
Que vazio ela me faz sentir.
Parece a noite sem luar que presencio.
Nem as estrelas querem aparecer,
Deixam o meu luar solitário.
Eu preciso sair dessa solidão,
Eu a amo demais, mas deixarei de amá-la.
Arranco o amor aos poucos e vejo a ferida se abrindo
E sagrando violentamente.
Ela vai fechar. Eu sei que vai.
Mas ainda não quero que feche.
Que sangre rios de dor e angustia,
Um grande amor merece um sofrimento à altura.
Eu a amo demais, mas não quero mais amá-la.
Talvez ela não me mereça. Ou eu não a mereço.
Como ela me faz chorar. Nunca chorei assim na minha vida.
Com tanta dor, minha alma evoca paz de espírito.
Tenho que recuperar a auto-estima. Amanhã estarei melhor.
Mas hoje prefiro sofrer como um desgraçado
A morrer de amor.
Um grande amor merece um sofrimento à altura.
Poetas do mundo, sei que neste momento
Poucos souberam do meu lamento.
Mas um dia todos perceberão nestes versos
O quanto eu sofri com a rejeição da mulher amada.
Verão onde a solidão me colocou,
E lerão a poesia mais pura do meu coração.
Sinceramente, se eu quiser deixar de sofrer eu consigo
Mas esse amor que senti foi tão bonito,
Que eu lutei por ele com todas as minhas forças,
Que merecer ser condecorado e evocado
Com os versos mais tristes dessa noite
Por ser o amor mais bonito que não aconteceu.

Esboço de uma elegia

Nesse céu não tem estrelas,
Nessa cidade vejo apenas desgostos,
Que durarão para sempre.
Por onde me guiarei?
Meu coração se perdeu.
Quem vai encontrá-lo?
Eu me sinto terrivelmente só.
Tenho vários amigos,
Mas há uma hora do dia
Que a solidão aparece e me entristece.
Queria apagar minha tristeza,
Mas não sei mais amar!
Somente flertes, nada mais.
Deve haver alguém que irá me fazer
Retornar o caminho paradisíaco no amor.

Os dias são tristes, tediosos,
O ápice do ócio.
A alma absorve o mal em minha volta,
Felicidade parece ser lenda.
Satisfação com a vida também.
Aquela sensação de que nada foi feito,
Muito me sufoca.
Fúnebre, esperarei novos tempos,
Fugindo da responsabilidade,
Vegetando nesta morbidez,
Afogado em melancolia.

Tudo está próximo do fracasso,
E ao mesmo tempo, perto do sucesso.
Louco de ódio, perdido de amor,
Um imenso nada dentro de mim.
Sem idéias, criatividade,
Bom-humor, eu me deprimo,
Tristeza insólita me consome
E me contamina a carne.
Não quero me machucar,
Não quero abandonar quem amo
Mas do jeito que está,
Ficou insustentável,
Não sei o que está havendo.

Soneto a um futuro amor

E o amor veio me pegar novamente.
Eu queria tanto ficar sozinho
Já estava cansado de buscar carinho,
Cansado de fingir que estou contente.

Quando me vejo, estou sonhando acordado,
Imaginando você aqui comigo,
Meu novo caso antigo,
Conto os dias para te ter ao meu lado.

Meu medo é que não dê certo,
Não conseguir estar por perto
Quando você precisar de mim.

Espero que sejas mesmo especial,
E que meu coração não sofra nenhum mal
Por ter se apaixonado assim.

Ciprestes e estrelas

Agradeço-te por tudo de bom que aconteceu
Agradeço.
Meu olhar voltou a brilhar
O mundo passou a emitir todas a cores
A luz branca do sol é eterna e cegante
O mundo é maravilhoso
O amor é mágico, o amor é fonte
Com as suas palavras e seu poder,
Tudo é belo com você.
Um ímpeto nobre,
Uma sensação esporádica e melódica
Um amor revolucionando por minuto
Meus modos e gestos
Minha forma de pensar
Meu jeito de amar!
O que era amar antes de ti?
Nada!Nada restava de mim antes de ti
Eu chorava na escuridão
Sem nenhum amor, sem ter o que sonhar.
Sem riscos para correr...
Sem você
Tantos dias, tantas noites vagas.
Tantos goles, tantos vôos tristes nas madrugadas,
Tanto tempo perdido
Mas que será recuperado.
Serei ressarcido por seu amor
Finalmente te encontrei
Esperei tanto você surgir...
E você apareceu como a luz na névoa,
O farol que guia o navegador nas tempestades,
Tive vontade de sorrir e correr
E de viver estupidamente feliz
Pois você está comigo e nada me atingirá
Nem a dor, nem a doença será capaz de me parar
Diante dos pés da derrota.
Eu amo você com força de mil homens
Com a ternura das crianças,
Com a magnitude das estrelas
E de ciprestes úmidos por orvalhos.
Eu amo, admiro você.
Você é tão decidida
Sabe o que quer,
E eu quero muito ficar eternamente com você
Você é tudo pra mim
Penso, questiono se sou merecedor
De tal dádiva de amor.
Errei tanto nessa vida vazia...
Talvez você seja minha redenção
Que com seu olhar me redime
De meus erros e me limpa das minhas impurezas
Como você me sinto um menino
Ávido por seus beijos,
Dependente do seu calor,
Ansioso por ouvir sua voz lívida,
Calo-me e te observo feliz por amar
Uma mulher tão especial como você
Eu amo você cada vez mais!
Se foi o destino que nos colocou juntos
A trilhar a mesma estrada agora
Eu não sei,
Só entendo que quem te recolocou
No meu caminho, queria que eu fosse feliz.
E que eu te fizesse feliz com todas as forças de meu corpo
E te farei feliz como ninguém nunca fez...
Quero viver a vida toda com o meu amor,
Minha relíquia, minha peça única,
A mulher mais linda,
A dona do meu coração,
Dos meus pensamentos
Da minha vida
Dos meus poemas apaixonados,
Eu agradeço a Deus por estar amando você.

Saudades de você

De repente, olho o relógio
E sinto saudades de você.
Uma saudade imensa como o céu,
Que me consome e me faz
Pensar em você o tempo todo.

De repente, concluo que as horas pararam.
Olho freneticamente os ponteiros do relógio
Que teimam em não se mexer.
Quando te verei de novo
E acabarei com essa saudade torturante?

De repente, percebo que estou sozinho.
Onde está você agora?
Se eu soubesse aonde te procurar,
Você já estaria comigo
E finalmente a felicidade me encontraria.

De repente, sinto-me triste.
Não sei se você sente a minha falta,
Posso estar te amando em vão.
Mas você é tão linda
Que mesmo te amando em vão valeria a pena.

De repente, eu enlouqueço.
Se você não aparecer
Sou capaz de cometer uma loucura.
Uma bem simples,
Que muitos não classificariam como loucura,
Apenas como uma declaração de amor.

O rio

O rio só sabe correr pro mar.
Ele não sabe se defender do progresso,
Que injeta esgoto em suas margens.
Não sabe se defender de gente ignorante,
Que joga o seu lixo no mesmo lugar
Onde pegam água para beber.
Hoje a água está imunda,
O rio tem água podre em suas veias
Desde a nascente até desembocar no mar.
Tudo porque não se defende,
Ele só sabe correr pro mar.

O rio só sabe correr pro mar.
Ele não tem culpa, se quando chove
Ele transborda e invade as suas casas,
Atrasa as suas vidas, fazendo-os perder tudo.
Ele só transborda porque o homem
Delimitou o seu espaço para incomodá-lo
O mínimo possível e assim, dar lugar ao progresso.
O rio não é de um tamanho só.
Ao longo do seu caminho, ele se alarga ou se comprime
E ele precisa de liberdade para isso.
É, o rio também afoga,
Mas e os peixes, seus grandes companheiros,
Que foram dizimados do rio
Para saciar a fome do homem?
Essas pessoas se afogam
Porque o rio não sabe parar.
Ele só sabe correr pro mar.

O rio só sabe correr pro mar.
E por causa disso, está morrendo.
E se ele morrer, quem dará
Água potável ao homem?O mar?
É bom o homem aprender
A viver em harmonia com o rio.
Ou então, quando se acabarem os rios,
Todos os seres vivos morrerão,
Inclusive o homem,
O grande culpado do rio
Não ter a liberdade
De fazer o seu último trajeto:
O de correr pro mar.

A balada do difícil amor

A vida era dura,
Toda noite tinha labuta.
Sarah dignificava o seu trabalho
Nas esquinas como prostituta.
Dividindo a calçada
Com outras prostitutas e travestis,
Fazia programas com homens
Que sempre passavam por ali.
Homens com os seus viris desejos,
Descarregando os seus prazeres
Carnais em Sarah,
Que tinha obrigação de os satisfazerem.
O tesão dela era fingido,
O orgasmo era simulado,
Tudo pelo dinheiro no final do ato,
Por mais um trabalho realizado.

E Sarah passava por muita coisa,
Homens pagando para apanhar,
Homens com ejaculação precoce,
Pagando para vê-la se masturbar,
Pagando para serem defecados,
Homens pagando para serem mulher.
Homens depravados, que pagavam Sarah
Para ela fazer o que quiser.
Mas ela também sofria muito
Quando os homens lhe pagavam para lhe cuspir, lhe chutar,
Morder-lhe os seios, puxar-lhe os cabelos,
Insultos grosseiros que Sarah tinha que agüentar.
Os xingamentos das puritanas eram comuns:
-Piranha vadia! Queimará no inferno!-elas diziam.
Mas Sarah sabia que quando elas não agradavam na cama,
Os maridos delas certamente a procurariam.
E assim, Sarah seguia a vida
Monotonamente e sem futuro,
Nos caronas dos carros,
Nos becos atrás dos muros.
E um sentimento a angustiava tanto
Que ela nem ousava dizer.
Mesmo tendo deitado com vários homens,
Sarah nunca sentiu o verdadeiro prazer.

Até que um dia Sarah foi paga
Para tirar a virgindade
De um jovem rapaz que acabou
De completar a maioridade.
Os amigos dele prepararam tudo,
Nada podia dar errado.
Sarah foi ao lugar indicado
E encontrou um rapaz muito assustado.
Era uma situação nova para Sarah.
Normalmente, já lhe teriam arrancado o seu sutiã.
Mas ela tratou de acalmá-lo conversando
Com ele até as primeiras horas da manhã.
O papo foi muito divertido,
Sarah nunca trocou tantas palavras com um cliente.
Ela gostou tanto que daria tudo
Para viver isso novamente.
Sarah resolveu fazer hora extra grátis
E eufórica, se entregou àquele rapaz tão gentil.
Mal sabia Sarah que ao se despir
Sentiria algo que nunca sentiu.
O rapaz se esforçava
Para dar prazer a ela,
Que ia às alturas,
Numa mistura de sensações que dominavam o corpo dela.
Ele a amou e respeitou
Enquanto teve fôlego e vontade
E os dois terminaram exaustos
De tamanha felicidade.

E Sarah finalmente tinha sido feita mulher...

Mesmo cansado,
Ele continuou a lhe dar carinho.
Sarah encantada, perguntou quem ele era,
E ele respondeu: -Todos me chamam de Nelsinho.

A diferença de idade não importava,
Sarah finalmente soube o que é respeito,
O que é carinho, o que é prazer,
Sem dúvida, Nelsinho era perfeito.
E quando ele dobrava a esquina
Sarah dava prioridade.
Juntos os dois namoravam
Como qualquer casal da cidade.

Nelsinho queria tirar Sarah dali:
-Você não merece essa vida,
Tirarei-te daqui e serás
Por mim a mais querida.
Nelsinho era de família conservadora,
E o seu namoro com uma meretriz chegou aos ouvidos do pai,
Que tratou de convencê-lo:
-Namorando uma puta? Com ela você não sai!
-Ninguém me impedirá de vê-la,
Nós nos amamos!
-Ela ama o seu dinheiro!
Não foi isso que eu e sua mãe planejamos...
A proibição de seu pai
Não foi suficiente.
Nelsinho continuava
Encontrando Sarah regularmente.
E em um desses encontros
O sêmen de Nelsinho germinou
E um clima de apreensão surgiu
Quando ele soube que Sarah engravidou.

Nelsinho sabia que sua família não aceitaria
A gravidez dela e teve a idéia de fugir
Para um lugar aonde eles se amassem
Sem que ninguém pudesse interferir.
Ele arrumou as malas
E pegou o carro do pai escondido
Buscou Sarah na pensão onde morava
E os dois sumiram da cidade fugidos.
Um temporal assolava as estradas
E Nelsinho não era experiente ao volante.
Madrugada, curvas sinuosas, visão prejudicada, cansaço batendo,
Nelsinho se descuida por um instante:
O carro dá de frente com uma carreta
E a colisão foi inevitável.
O carro se destruiu
E ficou em um estado lamentável.
Ao cortar as ferragens
Os bombeiros encontraram Sarah e Nelsinho
Mortos, de mãos dadas,No último gesto de carinho.

Mensagem a um poeta




Acorde poeta!
Olhe as injustiças à sua volta!
Olhe a fome, a miséria,
A violência, o descaso!
Denuncie a corrupção,
Deponha a omissão,
E escreva do jeito que só você sabe.

Levante poeta!
Não é hora de cair no ostracismo!
É tempo de imortalizar as meninas bonitas
Com os seus sorrisos meigos e belos quadris.
Não é como você gosta poeta?
Então! Reaja!
Não deixe que o tédio te destrua!

Ei, poeta!
Você não escreve sobre o amor?
Soletre-o aos quatro cantos,
Revele o seu lamento!
Quem nunca amou e sofreu, poeta?
Duvido que ninguém
Se identifique com as suas poesias.
Desabafe poeta! Não guarde nada para si!
Expulse os seus sentimentos
Através das palavras!
Escreva sobre os seus grandes amigos,
Recite sua saudade, sonete sua solidão.

Não se mate, poeta!
Não fuja, não se esconda!
Precisamos vê-lo lançando livros.
Precisamos ler as suas palavras,
Declamar as suas rimas,
Chorar com os seus versos.
Poeta, viva e usufrua
O que o mundo tem a te dar
Seja feliz, poeta!

A poesia definitiva para nós dois

Eu acabei encontrando o amor,
Encontrei tanto amor,
Que quis dividi-lo com você.
Para você entender
Que sem amor não somos
Nada nesta vida.

Porém, o dividi mal e conheci a dor,
Vi tanta dor
Que sofri quando te vi botando tudo a perder.
Tive vontade de chorar
E declamar poemas tristes
Em sua homenagem.

Agora você está feliz e eu só,
Tão só,
Que não sinto ninguém por perto.
Sou um andarilho solitário,
Um nômade vagando no deserto,
Sem você.

Não peço que tenha dó de mim,
Eu mesmo sinto.
Porque por mais que eu tente fingir,
Não poderei te esquecer
Enquanto você estiver por perto.

Se eu te amasse

Provavelmente, se eu te amasse,
Ficaria acanhado como nunca.
Mas trabalharia com descrição,
Para não assustar você.
E com o tempo faria você me conhecer,
Faria você me amar.

Se eu te amasse,
Eu já tinha te conquistado
E mostrado a você
Um eu sensível e apaixonado.
Eu te levaria para sair,
Comeríamos pipoca no cinema,
Nos beijaríamos na chuva,
Agarraria você na frente da sua mãe,
Que fingiria não nos ver.
E você me diria
Que nunca tinha sido tão feliz
E eu ficaria mais feliz ainda,
Por te amar e ser correspondido.

Se eu te amasse,
Daria tudo que você quisesse.
Você seria a mais mimada do mundo,
E eu, o mais feliz.
Mas eu teria muito medo
De você me largar e achar
Que eu não serviria mais pra você.
Isso me angustiaria,
Pois eu não quererei perder você pra ninguém.

Se eu te amasse,
Vigiaria os seus passos,
Para saber com quem andas,
Saber o nome do teu amigo, que não conheço
E fica de conversa contigo.
Quem é ele?Por que não me respondes?
Você se sentiria presa
Como um bicho enjaulado,
E você me abandonaria
Dizendo que o meu ciúme
Destruiu nossa história de amor.
Você choraria um pouco,
Mas decidida do jeito que você é,
Daria-me um adeus seco
E eu nunca mais você.

Se eu te amasse,
Neste momento eu estaria acabando
Com a minha própria vida.

Não quero tentar te amar agora.
Quero pensar que sou jovem
E que terei muitos amores pela frente.
Ou senão me lamentarei a vida toda
Por não ter amado você.

Estado de pecado

Minha alegria é perversa,
Meu prazer é doentio,
Meu amor é possessivo,
Meus sonhos são macabros,
Minha compaixão é egoísta,
Minha influência é maléfica,
Eu sou o que ninguém seria.

Minha verdade magoa,
Minha dor acalenta,
Meu silêncio ensurdece,
Meu olhar paralisa,
Meu gesto condena,
Meu medo seduz,
Minha alma convida,
Ao inferno de vermelha luz.

O tempo me faz chorar
Lágrimas de sangue,
Sangue fétido e imundo,
Para implorar perdão
Sobre as coisas que eu não fiz.
O tempo me pune,
Dando-me a dor sublime da perda.
E enquanto sofria desesperadamente,
O tempo admitia:-O inferno é eternamente aqui.

Último soneto de amor (Last sonet of love)

Foi um amor de enlouquecer
A verdade se tornou mágica.
Um amor que me tomava e me fez crer
Que existe ternura na minha vida trágica.

As juras de amor são inesquecíveis,
Viveria só de passado, se pudesse.
Mas as coisas se tornam inconcebíveis
Quando o triste inevitável acontece.

Minha amada perdeu-se no vento.
O tempo se tornou pouco,
E ela preferiu ocultar nosso sentimento.

O canto, de afinado, ficou rouco,
E o que me sobra nesse momento,
É chorar esse amor lindo e louco.

Vivendo um grande amor

Um dia,
Você encontrará alguém
Que preencherá o vazio do seu coração.
Você procurará,
Buscará em bocas desconhecidas
Os beijos de amor,
Em corpos estranhos,
A paz dos amantes,
Buscará uma pessoa que te conheça como ninguém.
Mas encontrar a pessoa certa
É tão fácil como encontrar uma agulha no palheiro.
E você desanimará.
Você viverá dos seus projetos pessoais,
A sua realização financeira,
E você vai abaixar a guarda,
E quando menos esperar,
Quando a distração te acompanhar pelas ruas,
Você encontrará.
Seu coração palpitará
E lhe indicará que esta é a pessoa certa.
Seu pensamento será nessa pessoa,
Contará os minutos para vê-la,
Terá um súbito medo de seus sentimentos
Não estarem sendo correspondidos.
Mas quererá veementemente
Esta pessoa ao seu lado.
Sonhará com o grande dia.
Você tremerá, faltarão as forças.
Mas no momento que a pessoa certa
Descobrir que você também é a pessoa certa para ela
O mundo terá a mais linda das cores.
Nada mais será obstáculo.
O amor lhe dará força para tudo,
Você buscará o que quiser.
A vida será um conto de fadas moderno
Em que você torcerá que nunca tenha fim.
Aproveite cada momento,
Cada beijo,
Com toda a intensidade que um grande amor pode ter.
Se encontrar um seu grande amor,
Não desperdice.
Presenteie o seu amor com tudo
Que lhe for possível,
Passe o tempo que puder ao seu lado.
Faça ela se sentir amada,
E com certeza, terás um grande,
Duradouro e intenso amor,
O amor mais maravilhoso de sua vida.
Quando achar a pessoa certa,
Não hesite, não tema,
Conquiste-a.
E terás o prazer de dizer
Em seu leito de morte
Que viveu intensamente um grande amor,
Coisa que muita gente no mundo
Teve a sorte de encontrar.

Em busca da poesia perfeita



Misturo rimas,
Mesclo estilos,
Faço uma análise Profunda dos meus sentimentos,
Para traduzi-los finalmente em palavras.
Eu vivo na busca incessante
Da poesia perfeita,
Que diga tudo que precisa ser dito
Aos homens de pouca fé do mundo,
Que não acreditam que o amor
É a arma da vitória.
Que a poesia seja linda e avassaladora
Como uma onda revolta,
Que seja pura e inocente
Ao olhar de uma criança,
E que amoleça o mais frio dos corações.
Que seja única, imutável
E irreversível.
Que trate de amor
De uma maneira única e pessoal,
Mas que ao mesmo tempo,
Fale a linguagem universal dos amantes.
Que sejam breves estes versos de amor.
Queira Deus Que me dê saúde e inspiração
Para buscar a poesia perfeita
Por toda a minha vida.
E se um dia a tiver escrito,
Que eu nunca descubra em vida,
Senão o tédio dominará e matará
O poeta em mim.