Dançando Entre Lírios mortos,Livro de poesias de Marcos Antônio Filho(Fábrica de livros,15 Reais)
maiores informações em marcos.antoniofilho@gmail.com ou no próprio blog

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Esquinas que vi

Era noite de Lua nova.Meu olhar a esperava.Minhas mãos a esperavam, meu corpo a esperava. Ela estava atrasada, era para ter passado por esta esquina há quinze minutos.Eu estava ansioso demais, sentado no banco do balcão do bar da esquina da casa dela.Eu precisava dela passando por essa esquina agora, eu tenho que vê-la agora.Já tomei uma garrafa de cerveja pra ver se essa agonia passa, mas em vão.Vivo ansioso desde que terminamos.Ela precisa saber que ainda a amo, que por orgulho tentei esquecê-la e tirá-la da minha vida, mas por força das circunstâncias, falhei.Eu podia ter ido a casa dela, mas prefiro ficar nesse boteco na esquina da rua dela, onde posso esperar ela passar e assim poder abraçá-la e falar do meu amor, falar que estou arrependido, que eu errei.Viu, ela conseguiu me deixar romântico!Eu agora penso em poesias e coisas banais para um leigo, num amor eterno aos olhos do mundo, enfim ela me deixou terrivelmente apaixonado.

Passam estudantes animados, engravatados apressados, senhoras amistosas passeando e fofocando sobre a vida alheia, tudo passa em minha vida, menos quem eu quero.O bar está vazio, uma música brega rola no fundo do bar, dois bêbados discutem sobre assuntos sem sentido, e tentam falar um mais alto que outro.O rapaz do balcão na falta do que fazer, limpa o balcão para me incomodar.Mas eu continuava encostado no balcão, virado para rua, esperando impacientemente minha amada.Será que o cara do balcão percebe minha agonia?Acho que não, sei disfarçar muito bem meus sentimentos quando quero.Vou dar um gole em minha cerveja e ela está choca.Peço outra e meu amor não vem, ao contrário da cerveja que chega no mesmo instante.O que houve para ela não ter aparecido?

Talvez se tivesse sido mais compreensivo, não estaria passando por isso.Mas sou ciumento demais, tenho que admitir.Não consigo acreditar que aquele cara que sempre liga pra ela seja apenas amigo dela.Eles conversam tão descontraídos...Homens e mulheres não podem ser amigos.Ou podem?Talvez haja uma exceção, e eu corro risco de perder a mulher que amo por causa disso.Eu tenho que reparar esse erro.Preciso vê-la, ela precisa saber que eu a entendo, que pode existir amizade entre homens e mulheres, e que eu amo.Estou disposto a mudar, não ouvirei mais o que os outros dizem, não vou mais cometer mancadas, eu vou mudar por ela.Só quando a gente perde é que damos o devido valor.E o pior disso é que posso ter descoberto isso tarde demais.

Mais uma cerveja e mais agonia.Carros dobram essa esquina e não dobra meu amor, quem mais quero.Será que ela saiu do trabalho mais cedo?Ou está fazendo cerão?Droga, é horrível fazer surpresas.Eu preciso muito saber o que houve, senão vou pensar em alguma besteira...Eu só quero olhar pra ela e dizer algumas coisas, para voltarmos ao normal, só isso meu Deus!Tudo passará apenas de um mal-entendido e riremos muito sobre esta bobeira.Faz ela aparecer na calçada agora!Eu preciso muito disto!

Deve ser melhor desistir de ficar esperando aqui.Melhor é ir até a casa dela e ver se ela está.Admito que estou meio desanimado, aquela ânsia de tê-la em meus braços acabou. Eu ligo pra ela depois, vamos tentar conversar e quem sabe, voltarmos às boas.Isso foi só um impulso, uma paixonite qualquer...Mas tem alguém parecido com ela lá embaixo na rua... Acho que é ela está vindo ali...Está muito longe, tenho que esperar chegar mais perto... É ela mesma!Linda como sempre, linda como nunca!Agora é a minha grande chance, vou lá falar com ela e...Mas parece não estar sozinha, ela está com alguém... É aquele amigo dela... Eles estão de mãos dadas!Como se fossem...Ela rindo junto com ele, ela está feliz sem mim...Ela está passando por mim agora e nem olha pra dentro do bar...Não vê que estou aqui dentro doido pra dizer que a amo e que...Ela passou sem olhar pra trás com o amigo dela.Nossa, como ela estava feliz...O olhar dela não estava triste, estava feliz sem mim e com aquele cara, o grande amigo dela.Bem, o que meus olhos viram foi o suficiente, é hora de virar-me ao balcão pedir mais uma cerveja e fazer um brinde a minha solidão, minha nova companheira.

Nenhum comentário: